sexta-feira, 29 de abril de 2016

Startup Voucher: Governo dá 700 euros por mês para empreendedores desenvolverem ideias

O Startup Voucher é uma das medidas da estratégia nacional de empreendedorismo. Recentemente, o secretário de Estado da Indústria revelou que este apoio a universitários ficará disponível em breve. São 700 euros por mês.
O Startup Voucher é uma das medidas dos Startup Portugal, a estratégia nacional de apoio ao empreendedorismo. Destina-se a jovens universitários que estejam a terminar os cursos, ou já licenciados, e visa que estes tenham uma verba mensal, durante alguns meses, para que possam desenvolver o seu projecto.

O secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos (na foto), revelou há dias, em Proença-a-Nova, de acordo com o portal do Governo, que esta medida será disponibilizada dentro de alguns meses.
"Vão ser avaliadas as ideias de negócio e, dependendo da sua validade o empreendedor pode auferir deste apoio, de cerca de 700 euros por mês, durante um ano", afirmou ainda o secretário de Estado, segundo o portal do Executivo de António Costa.
Assim sendo, um empreendedor pode receber, no total, durante um ano, 8400 euros para poder desenvolver a sua ideia de negócio.
Para apoiar os empreendedores, a estratégia nacional de empreendedorismo conta ainda com outras medidas como o Programa Momentum e vales de incubação e aceleração. O Programa Momentum, e à semelhança do que acontece com a iniciativa da Startup Lisboa, esta medida visa permitir a um licenciado, que tenha beneficiado de uma bolsa de acção social, criar a sua empresa. Para isso, é-lhe facilitada residência, espaço de incubação e uma verba mensal para fazer face às despesas pessoais. Vai ser articulado com a rede nacional de incubadoras e com as universidades.
Quanto aos vales de incubação e aceleração, os destinatários são as empresas que podem candidatar-se a uma incubadora e custear a sua presença. Vão, porém, ser estabelecidos limites nas incubadoras.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Miguel Fontes. “É um erro estratégico afirmar que temos mão-de-obra barata”

 

O diretor da Startup Lisboa diz que empreender não pode ser "uma realidade apenas para afortunados". É preciso mais capital semente e saber como atrair 'players' internacionais.  

 

Sucedeu a João Vasconcelos – atual Secretário de Estado da Indústria – na direção daquela que foi a primeira incubadora lisboeta para projetos inovadores, com pensamento global e modelos de negócio de crescimento rápido, a Startup Lisboa. Reconhecendo a “responsabilidade” que foi ficar com o legado de uma “força da Natureza”, Miguel Fontes conta ao Observador que o principal desafio dos empreendedores é a ausência de capital semente. “Podemos estar a desperdiçar boas ideias por falta de capital semente”, disse. E é por isso que é preciso atrair players internacionais, mas com os argumentos certos. “É um erro estratégico afirmar que temos mão-de-obra barata”, afirmou.

Com 44 anos, antes de abraçar a liderança da Startup Lisboa, Miguel Fontes foi administrador executivo da AICEP – Portugal Global, entre 2010 e 2015, e Secretário de Estado da Juventude, no Governo de António Guterres, entre novembro de 1997 e abril de 2002. Ao Observador, disse que não vê problema em transformar o empreendedorismo uma moda, mas admite que é preciso não confundir conceitos. Sobre a ausência de capital semente, disse ainda que se o país não quiser “que o empreendedorismo seja uma realidade apenas para os afortunados desta vida”, que é preciso ter mais gente disposta a apoiar as fases iniciais dos projetos.

“Nós já cá estamos e estamos a jogar em casa”


António Costa disse, na inauguração do novo escritório da Uniplaces, que quer replicar o modelo da Startup Lisboa no Startup Portugal.
Ótimo.

E a Startup Lisboa, o que é que quer?
A Startup Lisboa quer crescer e consolidar este percurso que começou há quatro anos. E ser, cada vez mais, uma referência no ecossistema nacional, em matéria de incubação de empresas. Neste momento, estamos confrontados com um desafio muito estimulante: a enorme procura de startups internacionais, que querem ter em Lisboa o seu espaço de ancoragem, onde podem desenvolver os seus projetos. E isso fez despertar o interesse de outros players, outras incubadoras, que querem instalar-se em Lisboa um pouco à boleia de todos este movimento potenciado pela Web Summit (que é causa, mas também consequência de todo o trabalho já feito). Vamos estar num ambiente mais concorrencial do que aquele em que estivemos até agora, mas mais motivados também. E queremos continuar a ter algumas das melhores startups, até agora nacionais, mas também internacionais. Não queremos ficar numa espécie de projeto doméstico, mas termos as condições de acolhermos todas as startups que queiram vir para Lisboa, com qualidade.

A procura tem crescido quanto?
Não lhe consigo dizer em números, porque não tinha esse histórico. Mas sinto, claramente, que tem havido esse aumento de procura, não só de startups, mas de tudo o que está à volta: de espaços de cowork, novos projetos que se estão a desenvolver na cidade, novas incubadoras, maior atenção por parte do mundo financeiro, etc. O ecossistema está, no seu conjunto, a mexer. Até os próprios parceiros locais, que já cá estavam a desenvolver os seus projetos. Há toda uma dinâmica que sustenta essa informação, de que a procura é crescente. E é evidente que, quando há um aumento de procura, também há muita coisa que não tem a qualidade que, à partida, se espera. É preciso que todos nós tenhamos essa noção, para que, no fim da linha, haja um conjunto de startups que são capazes de se internacionalizar rapidamente, de dar cartas, de levantar investimentos significativos. É evidente que a base tem de ser muito alargada, porque há hoje mais gente (do que alguma vez houve) a equacionar, como trajetória de vida e profissional, ser empreendedor. E eu acho que é muito positivo.
 
"O objetivo é, precisamente, continuarmos a ser percecionados como 'os bons projetos vão para a Startup Lisboa'. Queremos continuar a ser assim"

Vão abrir vários espaços de incubação novos em 2016. Como é que a Startup Lisboa se pretende diferenciar?
Com a ideia de que Lisboa somos nós. [risos] Digo isto um pouco na brincadeira, mas também a sério. Há aqui um ativo que temos de saber projetar: nós já cá estamos e estamos a jogar em casa. Conhecemos bastante bem a realidade nacional e isso pode ser útil às startups – ao nível de contactos com entidades, mentores, parceiros. Estamos muito bem posicionados. Temos uma rede de parcerias e de mentores muito significativa e achamos que estamos em condições de oferecer um bom serviço às nossas startups.
Depois, queremo-nos diferenciar pela qualidade do serviço que prestamos. Queremos criar um ambiente marcado por eventos permanentes, regulares, quotidianos, que criem um ambiente de troca de experiências, aprendizagem, identificação, tendências. Enfim, tudo aquilo que, no fundo, são as dimensões importantes no trabalho de uma startup. Mas também queremos incubar os melhores projetos. O objetivo é, precisamente, continuarmos a ser percecionados como ‘os bons projetos vão para a Startup Lisboa’. Queremos continuar a ser assim. Sentimos que há essa procura e queremos apurar a nossa capacidade de seleção, com muito critério. E quem cá está também tem de sentir mais esse peso da responsabilidade. Se está na Startup Lisboa tem de sentir pressão para mostrar resultados.

E estão a pensar avançar com algum programa de aceleração?
Decidimos que não iríamos desenvolver programas de aceleração, em sentido estrito. Ou seja, estamos disponíveis (e estamos a trabalhar em várias possibilidades) para desenvolver alguns aceleradores verticais, mas através de solicitações concretas para setores. É muito importante fazê-lo por várias razões, mas a principal é que precisamos de trabalhar a sustentabilidade da Startup Lisboa, nomeadamente, a financeira. Há um campo importante, que é por o nosso know-how ao serviço da comunidade e desenvolver uma linha de prestação de serviços que, até agora, não foi a prioridade. Estamos disponíveis e interessados em fazê-lo, mas numa lógica de aceleradores verticais. Há outros espaços que já fazem os programas tradicionais – e fazem-no bem. Achamos que não é aí que devemos apostar.
"Estamos a trabalhar muito com a Secretaria de Estado do Turismo, para que estes dois pilares sejam muito fortes na ação da Startup Lisboa"
Quanto a novidade, o foco no comércio e turismo vai ser para muito importante num futuro próximo. Queremos criar condições no curto, médio e longo prazo para poder incubar projetos na área do comércio, que têm exigências diferentes. Se estivermos a falar de comércio que também tem uma presença offline, ou seja, os espaços para incubação não são indiferentes. Estamos a trabalhar nisso: em encontrar locais onde seja possível fazer alguma incubação de projetos que impliquem contacto de rua com o público. E também no turismo, porque é essencial para o país, não para de crescer, há muita gente a ter boas ideias para qualificar a nossa oferta turística, há muita coisa a acontecer e queremos ter uma presença. Estamos a trabalhar muito com a Secretaria de Estado do Turismo, para que estes dois pilares sejam muito fortes na ação da Startup Lisboa.

A Web Summit acontece em novembro, os media internacionais estão cada vez mais atentos ao que se passa por cá. Acha que a cidade está preparada?
Sem dúvida nenhuma. Lisboa tem um histórico de acolhimento de grandes eventos internacionais que não tem dois dias, tem vários anos. E isto inscreve-se num movimento que vem de trás, desde 1994, ano em que Lisboa foi Capital da Cultura, e de 1998, com a Expo. Temos uma excelente rede de transportes públicos, boas zonas de circulação, boa infraestrutura tecnológica, bons espaços. Se tivermos em conta que o processo de deslocalização da Web Summit para Lisboa foi um processo – como Paddy Cosgrave não se cansa de referir – muito criterioso, e que, no fim, elegeram Lisboa, então essa é a melhor prova de que estamos preparados. São eles a dizê-lo.

“Não podemos fazer isto na ingenuidade de acharmos que somos a última garrafa de água do deserto”

Numa entrevista, Paddy Cosgrave questionou se Lisboa teria pessoas suficientes para alimentar tanta criatividade. E esta também é um pouco a vossa preocupação: a de chamar talento internacional. Corre-se o risco de perder visão local?
Acho que não. Acho que a identidade é qualquer coisa que não é estática, que se redesenha, que se constrói a partir das interações do que fomos, do que somos e do contacto com outras realidades. Não sou muito adepto da ideia de que temos uma identidade a preservar, num sentido estático. Para mim, a identidade mais interessante é aquela que se constrói a partir do recriar dessa mesma identidade. Do que se vai refazendo desse tecido de relações. Acho que já vivemos essa tensão entre o local e o global noutras áreas e foi francamente positiva.
Sobre a questão do talento, Lisboa tem de ser capaz de se posicionar e acho que está a consegui-lo. E a Web Summit vai ajudar a consolidar esta ideia. Nós temos tudo. E gosto de sublinhar isto: temos uma cidade e um país – porque isto não se esgota na cidade de Lisboa – que é super amiga de quem cá vive. Não é uma cidade agressiva, é uma cidade onde é agradável viver. Com excelente qualidade de vida, excelente oferta cultural, com condições naturais absolutamente fantásticas. Não digo isto naquela ótica de promoção habitual do turismo de Sol e mar. Não é isso. É porque hoje, ao contrário do que acontecia no passado, os fundadores destas empresas dão muita importância ao equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional.
"Lisboa acaba por ser o resultado das políticas públicas dos últimos 20 anos, nomeadamente, na qualificação das pessoas, de gente muito boa"
É preciso saber que há aqui uma mudança de paradigma. Não estamos a falar apenas de captar investimentos, de alguém que está sentado num escritório em Nova Iorque a decidir uma expansão internacional. Para ele, é indiferente se vai lançar uma unidade industrial na China ou no Vietname, porque está a decidir apenas o investimento. E não a sua vida. Aqui, não: os fundadores estão a decidir o sítio onde vão viver. E, por isso, não é indiferente a cidade. Acho que isto nem sempre é suficientemente percebido.
Mas não é só por isto. É porque Lisboa (e o país) acaba por ser o resultado daquela da aposta das políticas públicas dos últimos 20 anos, nomeadamente, na qualificação das pessoas, de gente muito boa. E gente muito boa que não se esgota nas engenharias, mas em todas as áreas que são importantes no mundo das startups: na área da gestão, comercial, marketing, design, etc. E eu não gosto nada da expressão “vender o país”, acho que é um erro estratégico afirmar que temos mão-de-obra barata. E o passado é mais do que elucidativo de que esse não é o caminho.
Agora, temos muito bons recursos, muito bem qualificados, a valores muito competitivos. Se somarmos a isto o facto de sermos uma cidade muito interessante, com um custo de vida muito razoável… Porque, vamos ver: um empreendedor que trabalhou durante 10 anos numa grande consultora internacional, por exemplo, tem algumas economias e decide arriscar num projeto em que andou a pensar durante anos. Se o fizer em Paris, Londres ou Berlim, com o mesmo orçamento vive um ano em Lisboa e o orçamento que ele terá – acredito que não erro muito se disser que o rácio é se calhar de três meses para um ano em Lisboa e, se calhar, quatro meses numa cidade como Paris. Isso, só por si, posiciona Lisboa muito bem. É custos, é qualidade, é talento.

Esta ideia pode estar mais familiarizada na Europa, mas há um oceano por passar. Há pouco, utilizou a expressão “vender o país”, mas é um pouco isso. Os portugueses estão a saber vender o seu país além da Europa?
Acho que sim, mas temos de ser realistas e ter a noção de que não somos os únicos no mundo. Se nós nos mexemos, os outros também não estão parados. É evidente que não podemos fazer isto na ingenuidade de acharmos que somos a última garrafa de água do deserto. Há outras. Agora que, manifestamente, há condições em Lisboa, há. Estamos a saber fazê-lo? Acho que sim. E a prova é tudo o que está a acontecer. Não é por obra e graça do espírito santo, como se costuma dizer, que tudo isto está a acontecer no país e, nomeadamente, em Lisboa. Se essa procura acontece, se há este reconhecimento internacional, é porque esse trabalho é feito e está a ser reconhecido.
Dito isto, é sempre possível fazer mais, fazer melhor. Por isso é que quando o presidente da Câmara Municipal de Lisboa diz que a Web Summit não se pode esgotar num excelente evento (ou Lisboa ficar apenas conhecida por ser uma cidade ótima, que sabe muito bem acolher e organizar eventos internacionais de dimensão), mas que deve ser, sobretudo, uma oportunidade para consolidar o posicionamento de Lisboa como cidade de referência no mundo do empreendedorismo, eu não podia estar mais de acordo. Acho que essa é a visão estratégica correta. E é assim que devemos olhar para a Web Summit: o evento não se esgota nos dias em que se realiza e é, sobretudo, o que permite alavancar.
"Espero que as incubadoras de empresas não se transformem no novo pavilhão gimnodesportivo das autarquias pelo país fora"

Mas Lisboa não é Portugal. O ecossistema está muito “lisboacêntrico”?
Acho que não. E a realidade desmente-nos isso todos os dias. Estou a falar de Lisboa, porque falo a partir da Startup Lisboa, mas aceitando o seu desafio, digo que não. O Porto tem excelentes coisas a acontecer, Braga está a fazer um excelente trabalho com a Startup Braga. Aveiro também, muito ligada à Universidade de Aveiro. Podia dar mais dois ou três exemplos, mas temos de ser honestos e rigorosos nestas coisas. Não é possível acreditar que vai haver, de repente, um ecossistema vibrante de empreendedorismo em cada cidade, em cada vila portuguesa. Porque isso era negar os seus ingredientes de partida.
Deixe-me dizer isto de forma mais clara e caricatural – espero que as incubadoras de empresas não se transformem no novo pavilhão gimnodesportivo das autarquias pelo país fora. Que todas as autarquias achem que vão ter uma incubadora de startups.  
Podem ter projetos de apoio ao desenvolvimento local, ao empreendedorismo local, à renovação do seu tecido comercial, empresarial, nada contra. Mas nesta lógica das startups, é evidente que não é possível. E isso tem a ver com o reconhecimento dos ingredientes deste processo, que não acontece por acaso.
É fundamental que aconteça em sítios que estão próximos de grandes centros de saber, onde haja um sistema sólido de conhecimento, de tecnologia, de transferência desse conhecimento e dessa tecnologia para o mundo empresarial, onde haja uma boa infraestrutura tecnológica, Ou seja, um conjunto de requisitos que não são replicáveis assim tão facilmente. Isto é mesmo assim. Não temos de ter complexo em assumir esta situação. Mas também temos de ter noção que tudo o que acontece de bom para Lisboa, à escala do país, é relativamente fácil de propagar para fora. Não tem de existir essa ideia de que só serve Lisboa. Não, isto serve o país.

É importante que lançar uma startup não se torne uma moda?
Eu não tenho nada contra a moda.

Mas corre-se esse risco.
Corremos o risco de as pessoas já não saberem muito bem do que é que se está a falar. Acho que esse risco existe e digo isto sem ironia ou cinismo. Acho que todo e qualquer projeto a este nível é respeitável. Alguém que queira, na sua vila, pegar num antigo estabelecimento comercial, renová-lo, abrir uma loja mais interessante, com melhores produtos e melhores serviços, é excelente e deve ser valorizado. Mas agora não vamos dizer que é uma startup.
Acho que se os nomes servem para alguma coisa é para nos orientarmos e organizarmos e aqui convém sermos rigorosos. Desse ponto de vista, sem querer fazer uma grande discussão académica do que é isto de uma startup, acho que há alguns nomes em que todos estamos de acordo, como a ligação forte à inovação, o facto de ser um projeto pensado para se dirigir a uma escala que não é doméstica, mas global, e que está associado a modelos de negócio de fortíssimo e rápido crescimento, etc. Dito isto, não acho que devemos olhar com maus olhos para tudo o que é capacidade de gerar novas iniciativas, noutros âmbitos. Estas iniciativas são necessárias e muito bem-vindas. E tudo isso é empreendedorismo, não são é startups.
"[O léxico em inglês] também contribui para essa iliteracia, mas não vejo como um drama, acho normal. E é o tempo que se vai encarregar de ir alargando o universo das pessoas"

Acha que há alguma iliteracia? Todos estes conceitos são novos.
Normalíssimo.

As pessoas confundem-se?
Claramente. Toda esta realidade é muito nova. E isto anda tão depressa, cresceu tanto, que parece que andamos todos nisto há muitos anos. A Startup Lisboa tem quatro anos e é dos projetos mais antigos. Todas as empresas que estão a dar cartas são novas, têm quatro anos, cinco no máximo. Mas não é só em Portugal que é novo. Estamos a falar de uma realidade que tem, talvez, 10 anos no mundo. Estamos a falar de um léxico que é quase todo ele em inglês – até porque o ritmo é tão grande que não dá tempo de as línguas maternas encontrarem as expressões corretas para traduzirem esses conceitos. Como estamos a falar de um mundo cosmopolita, muito internacional, e também ninguém faz o esforço de encontrar as palavras equivalentes, na sua língua. E isso também contribui para essa iliteracia, mas não vejo como um drama, acho normal. E é o tempo que se vai encarregar de ir alargando o universo das pessoas. Acho que é muito importante valorizarmos sempre a língua portuguesa, mas acho que não tem nada de dramático.

Quando é que ouviu falar de startups pela primeira vez?
Pergunta bem… Deve ter sido precisamente na altura da fundação da Startup Lisboa.

Como é que está a ser suceder a João Vasconcelos?
O João é uma força da Natureza. Fez um trabalho que eu não me canso de elogiar, porque é absolutamente justo. E conseguiu em quatro anos afirmar a Startup Lisboa como uma referência no ecossistema nacional. Esse mérito deve ser-lhe creditado. O que é que isso significa? Significa que a responsabilidade é grande. Eu gosto de bons desafios e isto é um excelente desafio. A Startup Lisboa é ela própria uma startup e estamos com os mesmos desafios e dores de crescimento das startups. Temos de conseguir crescer e consolidar esta experiência, gerar alguns processos que ajudem essa consolidação, sem perdermos agilidade, criatividade, a capacidade de nos movermos muito rapidamente. São traços que devemos ser capazes de preservar na certeza, mas agora precisamos de consolidar esta experiência.

“Não há razão para euforias, porque isto não foi resultado de um acaso”

Num cenário perfeito como vê Lisboa?
Vejo uma cidade com mais gente, uma cidade com o seu património reabilitado, privado e público. Vejo uma cidade onde toda a gente pode usar os seus smartphones e tablets porque a internet é toda de livre acesso e há uma cobertura wi-fi por toda a cidade. Vejo uma cidade vibrante do ponto de vista económico, que é isso que faz as pessoas viverem cá. E acho que estamos a caminhar para isso.

Mas para que tudo isso aconteça também são precisas iniciativas publicas. E o ritmo a que o ecossistema cresce e se desenvolve é diferente daquele a que o Estado se desenvolve.
Mas isso é normal. O Estado é o Estado, a sociedade civil é a sociedade civil. E dentro da sociedade, isto é uma expressão do mais vibrante e inovador. De mais ágil e mais rápido. O contrário é que seria estranho: se conseguissem andar ao mesmo ritmo. Não vejo isso como um problema, acho expectável. O que o Estado tem de fazer (e está a fazer) é conseguir perceber qual é o seu papel: ajudar a que todos os atores têm condições para crescer. E isso está a ser feito em várias dimensões, por exemplo, quando se convida empreendedores para contribuírem para o processo da simplificação administrativa. Está a ser feito quando se cria uma estratégia nacional como a Startup Portugal, mas com um conjunto de eixos muito claros e que tentam responder às diferentes dimensões deste universo. Acho que o desafio está a ser bem abraçado.
Há um que eu acho muito importante: a questão financeira. É o lado que continuo a achar mais frágil. Ao dia de hoje, é um bocadinho incompreensível a quantidade de capital de risco, de business angels e é evidente que este é um problema geral do país, que está todo ele descapitalizado – [que falta]. Não somos propriamente conhecidos por sermos uma economia com um empresariado muito pojante e capitalizada, mas ainda assim, mesmo sabendo isso, esperaria que houvesse mais gente desperta para este mundo e com mais vontade de investir.
Um dos desafios que encontro é ao nível do capital semente. Encontrar investimento já não é um problema para quem ganhou alguma tração. Pode fazê-lo junto da Caixa Capital Portugal Ventures, Faber Ventures, entre outras. O problema está na fase anterior.  
Acho que podemos estar a desperdiçar bom talento, boas ideias e boas pessoas por ausência de capital semente, de dinheiro que permita alavancar.
Porque se toda a gente fala da necessidade de haver tração, a pergunta que fica é: mas até conseguir essa tração, quem é que suporta os custos? Se não quisermos que o empreendedorismo seja uma realidade apenas para os afortunados desta vida – aqueles que consigam, por razões familiares ou pessoais, ter esses meios – não temos forma de acolher essa gente. E isso é um desafio que o país deve estar sensível para perceber. Não é o Estado.
É importante haver mais capital semente, mais capacidade de apoiar. Com esta ideia subjacente de que o falhanço faz parte e não é uma contingência do sucesso, é parte essencial e constitutiva do processo de empreender. Só empreende falhando. Mesmo aqueles que hoje são bem-sucedidos têm a honestidade de reconhecer que não foi à primeira. O importante é conseguir aprender com os falhanços e criar uma cultura que não penaliza quem falha. Quem investe quer ser remunerado, mas quem investe também tem de perceber que quando investe pouco e investe bem a probabilidade de ter um prémio que à sua espera é muito grande.
"Acho que o Governo está ciente, sensível e a pensar nisso: que é preciso criar um quadro fiscal que, de alguma maneira, ajude a estimular esse investimento aqui" 

Concorda com Rohan Silva, que disse que é preciso criar incentivos fiscais para os pequenos investidores? Resolvia-se desta forma?
Sem dúvida que ajudaria ter um sistema fiscal. Acho que o Governo está ciente, sensível e a pensar nisso: que é preciso criar um quadro fiscal que, de alguma maneira, ajude a estimular esse investimento aqui. A política fiscal serve para os países e os Estados sinalizarem as suas apostas e quando discriminam positivamente alguma coisa é porque entendem que há um racional de política pública que faz sentido. Ora, se toda a gente diz que isto é muito importante porque cria emprego, revitaliza o nosso tecido económico, permite internacionalizar mais depressa, permite crescer no domínio da inovação, acelerar processos de transferência de tecnologia e conhecimento para o mundo empresarial, aproximar o mundo mais moderno e inovador dos setores mais tradicionais da economia… Se tudo isto é verdade, então o fim da linha é o Estado conseguir criar todas as condições para que o sistema se desenvolva. E aí a política fiscal é obviamente importante.

E se tudo isto falhar?
Falhou. E não vai falhar. Porque, pelo meio, já há coisas que foram suficientemente bem-sucedidas para não haver retorno. Se tudo isto falhar, houve muita gente que não falhou, que cresceu, aprendeu, ganhou competências profissionais. Não consigo imaginar o que é esse cenário do falhanço coletivo, porque isto não tem um princípio e um fio. Tem um principio e um durante permanente. E é nesse durante que está a riqueza disto. É no processo. E, no processo, há gente que ganhou imensas competências, que conviveu com o que de mais dinâmico se faz no mundo da inovação, da ciência, da tecnologia. Admito um cenário em que podemos todos ficar com um sabor amargo face às expectativas que poderíamos ter. E, aí, não entremos, mais uma vez, naquela nossa característica de sermos bipolares. De passarmos da euforia à depressão com uma facilidade terrível.
Não há razão para andarmos eufóricos, porque isto não foi resultado de um acaso, foi resultado de trabalho. E quando se trabalha, não há razões para não se acreditar que não se fez as coisas bem, que os resultados não vão aparecer. É assim que vejo isto. Não foi um acaso e, se não foi um acaso, não há que temer. Não vale a pena ter euforia nem depressão. Vale a pena trabalharmos todos para a sustentabilidade, que é o desafio atual do ecossistema: sermos sustentáveis. E isso não significa que todos os projetos vão ser bem-sucedidos, que todos vão criar e encontrar em Portugal uma empresa igual às que fazem parte das marcas internacionais. Mas isso não significa falhanço, significa que estamos no bom caminho.

terça-feira, 26 de abril de 2016

Empreendedor conhecido por pagar salário mínimo de 60 mil euros vem a Portugal


CEO da Gravity Payments vai participar na quinta edição da Go Youth Conference, evento dedicado ao empreendedorismo jovem.

Dan Price, o empreendedor que se tornou conhecido por pagar um salário mínimo de 70 mil dólares vai estar no próximo fim-de-semana em Lisboa. Price, CEO da Gravity Payments vai participar na quinta edição da Go Youth Conference, evento dedicado ao empreendedorismo jovem.
Entre os participantes na conferência estão nomes como o de Adam CHeyer, fundador da Siri (vendida à Apple), David Noel da Soundcloud e Kelsey Falter, co-fundadora e ceo da Poptip, empresa entretanto adquirida pela Palantir e que será uma das animadoras do evento.
A iniciativa - cujo objectivo é inspirar os jovens portugueses e ajudá-los a construírem o seu futuro profissional- conta ainda com a presença de grandes investidores internacionais.
Para além da conferência irão decorrer em paralelo sessões de ‘1 para 1’ (pitch the master) entre participantes e oradores. Este ano haverá ainda lugar a uma pequena feira denominada de ‘Portugal showcase’ onde estarão algumas das star-ups portuguesas a mostrar os seus produtos.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

'WebSummit é uma oportunidade mas não garante o futuro'

 

A Faber Ventures recebe, "semana sim, semana sim", investidores ou empreendedores internacionais que ponderam lançar um negócio a partir de Portugal, diz o administrador executivo da empresa, avisando que a WebSummit é uma oportunidade mas "não garante o futuro".


"Semana sim, semana sim, nos últimos seis meses tivemos alguém em Portugal a falar connosco sobre oportunidades de investir ou criar empresas em Portugal, muitas vezes questionando-nos se temos interesse em olhar para eventual oportunidade de investimento (conjunto). Isso é cada vez mais frequente e vai continuar a acontecer", contou o fundador e administrador executivo da Faber Ventures, Alexandre Barbosa, à agência Lusa.

Trata-se de investidores ou empreendedores de segunda geração "que vêm dos EUA, por exemplo, e estão a pensar se vão montar o seu negócio em Lisboa, em Amesterdão, em Londres ou em Berlim", ou "de empreendedores de vários países da Europa que equacionam montar a sua próxima empresa a partir de Lisboa ou ainda investidores que querem saber melhor o que se passa".

É assim que acontece sobretudo depois do anúncio da vinda daquele que é apontado como o mais mediático evento europeu de 'startups' (empresas em início de atividade) de Dublin para Portugal, a WebSummit, e dos sucessivos anúncios sobre as rondas de investimento levantadas por empresas portuguesas, como Uniplaces,Talkdesk, Veniam ou Outsystems.

Mas, se por um lado, Alexandre Barbosa considera que a vinda da WebSummit "é uma tremenda oportunidade", por outro deixa um alerta: "Não é só por um evento passar por um país que de forma espontânea e de repente as 'startups' ficam cheias de capital e a crescerem globalmente".

"Estes eventos são de facto uma oportunidade, mas a responsabilidade dos ecossistemas onde eles se instalam ou por onde passam é fazer tudo o resto além do evento. O potencial de Portugal, no domínio das 'startups' e da nova geração de empresas de base tecnológica, cruza-se com o WebSummit, mas não se limita ao WebSummit", sublinha.

Disse ainda que não basta "ter políticas de atração de investimento internacional", há também "que dotar os investidores portugueses de capacidade de investimento internacional para que também se possa atrair projetos e talento de fora para Portugal".

"E a prova disso é que a maior parte dos projetos em que investimos em Inglaterra acabaram por estender de alguma forma a sua operação a Portugal porque nós investimos lá", contou.
Alexandre Barbosa espera que o capital que o Governo já disse que vai estar disponível nos próximos meses no mercado português para apoio às 'startups' "venha com um mínimo de limitações, para que as 'startups' tenham condições de competir internacionalmente na atração dos melhores investidores americanos ou europeus nas suas rondas de crescimento".

O fundador da Faber Ventures admite que "muito já mudou", mas há ainda muito a fazer, ao nível da regulamentação do quadro laboral, estabilidade e simplificação fiscal, simplificação dos instrumentos de financiamento e incentivos a programas de apoio.

Os instrumentos jurídicos associados a este tipo de operações de capital ainda não estão otimizados ao ponto de ser fácil lidar com eles, "cabendo aos vários agentes de mercado colaborar para se evoluir nesse sentido", afirmou.

A reboque das iniciativas que estão a ser lançadas, Alexandre Barbosa sugere que parte delas podiam ser mais claramente orientadas para atrair algumas das principais 'cabeças' da nova geração de engenheiros e potenciais empreendedores de áreas de competência de enorme potencial futuro, como 'machine learning', inteligência artificial ou 'data science'.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Portugal não é amigo do empreendedorismo



O estudo da Amway 2015 revela que apenas 16% dos portugueses consideram a sociedade favorável ao ato de empreender. O país é penúltimo numa lista de 44.

Portugal continua a ser uma sociedade pouco favorável ao empreendedorismo. Num grupo de 44 países, pior mesmo só a Bulgária.
Apesar desta opinião, que prevalece como principal conclusão do  Estudo Global de Empreendedorismo da Amway 2015, mais de metade dos inquiridos (57%) tem uma atitude positiva perante o empreendedorismo e 39% imaginam-se mesmo a iniciar um negócio próprio. A nível mundial a percentagem é ligeiramente superior, com a média de 43% dos participantes a assumir que se imagina a criar o próprio negócio.
Que razões levam os portugueses a querer criar um negócio? As motivações mantêm-se idênticas às do ano passado: ser o próprio chefe (45%), regresso ao mercado de trabalho e auto-realização (ambas com 30%), obtenção de uma segunda fonte de rendimento (15%) e conciliação entre trabalho e família (13%).
Analisando as respostas dos outros países, a primeira posição é praticamente a mesma: ser chefe de si próprio, mas quanto ao segundo – regresso ao mercado de trabalho – Portugal foi o único país a indicar este motivo em 2º lugar.
O medo de fracassar continua a ser a razão para não se avançar com a criação de um negócio, com 70% dos participantes inquiridos a confirmarem este receio, um valor equiparado à média europeia e global. E este receio de falhar surge por diversas razões. Em Portugal, 46% dos participantes consideram a crise económico-financeira como o principal fator (46%), seguido dos encargos financeiros para lançar um negócio (38%) e ainda o medo de ficar desempregado, caso o negócio não tenha sucesso (25%).
"É complicado avançar com uma carreira empreendedora quando o ambiente não é positivo. Por essa razão é extremamente importante pensar em alternativas para alterar a situação e fazer com que a sociedade portuguesa apoie ainda mais e de forma mais clara os seus empreendedores, afirma Rui Baptista, professor catedrático e Presidente do Departamento de Engenharia e Gestão do Instituto Superior Técnico e assessor académico do Estudo Global de Empreendedorismo da Amway." Por Almerinda Romeira/OJE

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Comissão Europeia abre inscrições para a Bolsa de Empreendedorismo

Comissário europeu Carlos Moedas e ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, estão confirmados no evento de 9 de Maio. ‘Elevator Pitch’ revela os vencedores.


As inscrições para a Bolsa de empreendedorismo 2016 abrem esta quarta-feira, 13 de Abril. Um evento que a Representação da comissão europeia em Portugal organiza pela primeira vez.

Esta é a fase final de um programa que arrancou em Janeiro, com a abertura do concurso ‘Elevator Pitch’ – Ideias que marcam, e que reuniu 150 propostas de negócio. Após uma análise, a
Representação seleccionou 24 equipas que tiveram oportunidade de frequentar um ‘bootcamp’ e um conjunto de formações para um primeiro contacto com diversas ferramentas de gestão necessárias ao desenvolvimento das suas ideias de negócio.

Agora, chegou a hora de revelar os dois vencedores. E é o que vai acontecer no próximo dia 9 de Maio. O Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, vai ser o palco de um evento – Bolsa de Empreendedorismo – que se divide em vários momentos: de manhã serão revelados os vencedores do concurso de ideias, numa conferência que conta com as intervenções de Carlos Moedas, Comissário Europeu, Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, Pedro Duarte Guimarães, do Instituto de Propriedade Intelectual da União Europeia, Teresa Mendes, do Instituto Pedro Nunes, e Eduardo Maldonado, da Fundação para a ciência e Tecnologia; enquanto à tarde, a Bolsa de Empreendedorismo proporcionará quatro estações de ‘workshops’. No total, são 16 sessões de 50 minutos cada, que decorrem em simultâneo em quatro salas, sobre os temas “Arranque”, “Business”, “Capitalizar” e “Desenvolver”. Todas as sessões serão ministradas por profissionais experientes nas várias áreas.

A Bolsa de Empreendedorismo 2016 não é apenas uma conferência. Tem como objectivo ser um espaço de empreendedorismo para reunir os agentes envolvidos na criação e desenvolvimento de negócios. É por isso que terá, também, uma área de exposição, com cerca de 20 stands de instituições financeiras, apoio ao empreendedorismo e fomento à inovação.

 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Portugal é pouco favorável ao empreendedorismo, diz estudo


Estudo Global de Empreendedorismo da Amway 2015 concluiu que só 16% dos inquiridos acham que a sociedade portuguesa é favorável ao empreendedorismo. Principal obstáculo é o medo de falhar.

Só 16% dos portugueses inquiridos para o Estudo Global de Empreendedorismo 2015 consideram a sociedade em que vivem favorável ao empreendedorismo. Esta foi uma das conclusões da sexta edição do estudo, feito pela Amway (uma multinacional norte-americana que trabalha no setor de vendas diretas) e recentemente publicado em Portugal. Um valor que colocou o país em penúltimo lugar (43º) neste aspeto, apenas à frente da Bulgária e longe da média dos 44 países onde o estudo foi realizado.
A forma como os portugueses veem a relação entre o empreendedorismo e a sociedade em que vivem é problemática e coloca entraves à atividade, afirmou Rui Baptista, presidente do Departamento de Engenharia e Gestão do Instituto Superior Técnico em Lisboa e assessor académico do Estudo Global de Empreendedorismo da Amway.
84% dos inquiridos assumiram que a sociedade onde vive não encara positivamente as temáticas relacionadas com o empreendedorismo e com o empreendedor, é desanimador. A questão que se coloca é o facto de Portugal se posicionar em penúltimo numa tabela de 44 países analisados e estar longíssimo da média global e europeia.”
“É complicado avançar com uma carreira empreendedora quando o ambiente não é positivo”, resume. Pelo que, defende, é necessário “pensar em alternativas para alterar a situação e fazer com que a sociedade portuguesa apoie ainda mais e de forma mais clara os seus empreendedores”.
O estudo, realizado pela Amway em conjunto com a Universidade Técnica de Munique e com o apoio do Instituto GfK Research, de Nuremberga (Alemanha), avaliou ainda outros dados, durante o ano de 2015, tais como a atitude dos inquiridos face ao empreendedorismo, a vontade de serem empreendedores, as motivações por detrás dessa vontade e os grandes obstáculos que consideram existir no seu país.

No Algarve, só 16% vêem o empreendedorismo com bons olhos

Mais de metade (57%) dos portugueses inquiridos manifestaram uma atitude positiva face ao empreendedorismo. Um valor que, contudo, não apenas desceu face ao ano transato, de 2014 — que se cifrava em 65% —, como continua distante da média dos 44 países analisados no estudo (onde, em média, três quartos dos inquiridos mostraram uma atitude positiva face à atividade empreendedora).
Em termos de distribuição regional, a larga maioria (84%) dos inquiridos que residem no Algarve não veem o empreendedorismo como uma atividade positiva, ao contrário do que acontece nas regiões Norte, Centro, Lisboa e Alentejo, onde 59%, 57%, 60% e 60% dos inquiridos, respetivamente, afirmaram ver a atividade como favorável.
A atividade empreendedora é vista com bons olhos sobretudo pelos portugueses com menos de 50 anos — 61% dos portugueses com menos de 35 anos e 58% dos portugueses com idade compreendida entre os 35 e os 50 anos consideram-na positiva. Contudo, mesmo entre os portugueses com idade superior a 50 anos, cerca de metade (51%) mostrou-se favorável ao empreendedorismo. Esta recetividade é maior em portugueses com estudos superiores (entre estes, 66% têm atitude positiva) do que entre aqueles cuja escolaridade não ultrapassa o ensino secundário (entre estes, 56% veem-na com bons olhos).

Vontade de ser empreendedor em linha com a média europeia

À pergunta “Consegue imaginar-se a começar um negócio?”, 39% dos inquiridos portugueses afirmaram que sim, um valor bastante próximo da média europeia, já que, nos 31 países europeus incluídos no estudo, 38% dos inquiridos, em média, mostraram-se recetivos à ideia de se tornarem empreendedores.
A maior parte dos portugueses que responderam afirmativamente à pergunta tem menos de 35 anos: 45% dos portugueses que responderam ao inquérito e que estão abaixo desse limite etário afirmaram imaginar-se como empreendedores. O valor desce entre os portugueses com idade entre os 35 e os 50 anos (38%) e com idade superior a 50 anos (32%).
Outro dos fatores a influenciar a predisposição dos portugueses para o empreendedorismo é a escolaridade: 57% dos portugueses com estudos superiores mostram-se recetivos a essa possibilidade, um valor que deixa de ser maioritário (37%) entre os que não os possuem.
Em termos regionais, é entre os residentes das regiões Centro (46%), Alentejo (42%) e Norte (41%) que se encontram os portugueses com maior recetividade à ideia. Em Lisboa, apenas 33% dos inquiridos se veem como potenciais empreendedores, valor que, no Algarve, desce para os 12%.

Ser empreendedor para “ser patrão”. Não o ser por “medo de falhar”

Em Portugal, quase metade (45%) dos que se mostraram recetivos a lançar um negócio afirmaram que esta vontade se devia, em parte, à vontade de serem o seu próprio patrão: uma motivação que predomina na maior parte dos inquiridos dos 44 países analisados no estudo.
Já 30% dos inquiridos afirmou que queria lançar um negócio para regressar ao mercado de trabalho. Outros 30% fazem-no por realização pessoal. No caso do regresso ao mercado de trabalho, os portugueses foram os únicos a apontar esta motivação como a segunda principal para a predisposição para o empreendedorismo. Portugal, recorde-se, acabou 2015 com uma taxa de desemprego de 11,8%, enquanto a taxa de desemprego jovem se cifrou em 31%.
Quanto a obstáculos para empreender, mais de dois terços (70%) dos portugueses afirmou que o principal é o medo de falhar. Seguiram-se o receio da crise económica (46% dos inquiridos apontaram-na como obstáculo), os encargos financeiros que poderiam resultar da atividade (38%) e o medo do desemprego (25%).
general manager da Amway Iberia, Monica Millone, também comentou os resultados, preferindo destacar os dados positivos: estes mostram “o grande potencial que existe em Portugal”, defende. Para alterar a perceção que os portugueses têm da forma como o seu país olha para o empreendedorismo, é preciso que “as instituições, as empresas privadas, o governo, assim como a sociedade em geral” continuem a investir:
A Amway já realiza este estudo há seis edições e é percetível que, apesar de a atitude descer um pouco nos últimos anos, o número de pessoas que procura criar o seu negócio tem-se mantido estável. Isto é um sinal do grande potencial empreendedor que existe em Portugal, mas é preciso dar ainda mais apoio às pessoas, dar-lhes formação e quebrar tabus e são exatamente as instituições, empresas privadas, governo, assim como a sociedade em geral, que têm de continuar a investir.”
O estudo da Amway foi feito através de entrevistas one-to-one e contactos telefónicos, tendo sido utilizada “uma inovadora métrica de análise ao espírito e comportamento empreendedor, baseada na teoria do comportamento planificado do professor Icek Azjen”, segundo explica a empresa, em comunicado.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

EY escolhe empreendedor do ano 2016


Seis finalistas concorrem ao prémio Entrepreneur of the Year. Vencedor será conhecido hoje numa gala no Meo Arena.

A EY lançou o desafio de encontrar o melhor empreendedor do ano em Portugal e, ao fim de alguns meses, chegou a altura de escolher o vencedor. Dos seis finalistas, haverá um vencedor do prémio Entrepreneur of the Year (EOY), que é anunciado hoje, dia 7, numa gala que terá lugar no Meo Arena, e representará Portugal na final mundial a realizar no Mónaco. 
Entre os finalistas estão três empresas tecnológicas, uma de mobiliário, uma agro-industrial e outra de vestuário, seleccionadas de um total de 21 projectos empresariais. Concorrem a este prémio Bento Correia e Miguel Leitmann (Vision Box), Pedro Sinoga e Ricardo Mendes (Tekever), Luís Moura e Silva (WIT Software), Carlos Aquino (Aquinos), João Ortigão Costa (Sugal) e Malik, Moez, Salim e Rahimo Sacoor (Sacoor Brothers).
"O empreendedorismo está de boa saúde em Portugal" e este prémio é a prova disso, assume João Alves, presidente da EY Portugal, testemunhando assim o trabalho realizado pela consultora ao longo das cinco edições do prémio já realizadas. A massa cinzenta existe nas empresas, assim como a vontade de inovar dos empreendedores e das suas equipas, defende o responsável da EY. "Espírito de inquietação, vontade de fazer, capacidade de liderar e uma resiliência perante a adversidade têm sido a fonte de inspiração dos candidatos a este prémio", sublinha João Alves.
Em eventos anteriores, o Prémio EOY já teve ilustres vencedores: Manuel Alfredo de Mello, presidente da Nutrinveste, venceu na última edição. O primeiro a arrecadar este prémio, já lá vão dez anos (2006), foi Belmiro de Azevedo, que chegou a ser escolhido para integrar o júri da edição internacional. Mas do rol de empreendedores vencedores constam ainda os nomes de Carlos Martins e Jorge Martins da Martifer, Carlos Moreira da Silva da BA Glass e Dionísio Pestana do grupo Pestana.
Ao contrário das edições anteriores, em que venceram grandes empresas, este ano predominaram as candidaturas de empresas de média dimensão, que se reflectem nos finalistas, com forte presença do sector tecnológico. "O lote de concorrentes deste ano é um bom espelho da evolução recente da nossa economia, com um forte pendor de empresas tecnológicas que se combina com projectos de muito sucesso nos sectores agrícola, industrial e dos serviços", explica João Alves.
Também a participação feminina foi maior este ano. Nesta sexta edição, 20% dos candidatos correspondem a projectos em que pelo menos um deles é uma mulher.
O júri da edição deste ano é presidido por Miguel Cruz, presidente do IAPMEI. São também membros do júri Francisco Veloso, director da Católica-Lisbon School of Business and Economics, João Talone, fundador da Magnum Capital, Manuel Alfredo de Mello, presidente da Nutrinveste, enquanto vencedor da última edição do prémio, Ana Pinho, presidente da administração da Fundação de Serralves, e José João Guilherme, administrador do Novo Banco.
Fundador do Cirque du Soleil foi um dos vencedores mundiais
O Prémio Empreendedor do Ano da EY foi criado nos Estados Unidos da América há 30 anos e mantém o objectivo inicial: reconhecer e incentivar os empreendedores que se distinguem pela criatividade, pelo investimento pessoal num projecto de empresa, pela visão e pelo sucesso alcançado. Para os candidatos, é uma oportunidade única para desenvolver o 'networking' de negócio.
Desde 1986, ano em que foi lançado, o EOY foi sendo alargado a todos os continentes. Líderes como o fundador do Cirque du Soleil, Guy Laliberté, ou o fundador da Actelion, Jean-Paul Clozel, já venceram o prémio a nível internacional.
Mohed Altrad, o último vencedor em 2015, tem uma história de vida que parece saída de um filme de Hollywood: nasceu numa tribo beduína na Síria e conseguiu vencer o destino de se tornar pastor no deserto para acabar por se doutorar em França e vir a criar uma empresa, o Altrad Group, hoje com 170 empresas sob o seu comando, 17 mil empregados, dois mil milhões de dólares anuais em volume de negócios e 200 milhões de lucro.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

João Vasconcelos: apoiar o empreendedorismo é apoiar a criação de postos de trabalho


O secretário de Estado da Indústria destacou esta quarta-feira que a prioridade do Governo é a criação de emprego e que ajudar a nascimento de start-ups é ajudar à criação de postos de trabalho. João Vasconcelos falou ainda sobre a Indústria 4.0, uma "revolução onde ser português não é um problema".

"A prioridade do Governo é a criação de emprego", assinalou João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria, no início da sua intervenção na conferência Ativar Portugal, promovida pela Microsoft. Tendo em conta que cerca de metade dos empregos criados no país são gerados através de empresas jovens, o governante assinalou que ajudando empresas jovens a constituírem o seu negócio é uma forma de ajudar ao lançamento de postos de trabalho.

O programa Startup Portugal, a estratégia nacional para o empreendedorismo, lançada no passado mês de Março, foi também abordado por João Vasconcelos. O governante falou nomeadamente do Programa Momentum, que visa permitir a um licenciado, que tenha beneficiado de uma bolsa de acção social na Universidade, criar a sua empresa. Para isso, é-lhe facilitada residência, espaço de incubação e uma verba mensal para fazer face às despesas pessoais.

A Zona Franca Tecnológica, uma das medidas inscritas no Startup Portugal, foi também mencionada. A medida prevê a criação de legislação e regulamentação que atraia sectores inovadores. O Governo quer atrair sectores inovadores, na sua fase mais embrionária, quando estão a ser desenvolvidos e antes de serem projectos empresariais. Assim, quando estes se tornarem numa empresa, possam ficar em Portugal.

"Estas 15 medidas são para apoiar toda a cadeia de uma start-up. Isto é para todos os sectores [da actividade económica]. O Startup Portugal quer trazer para Portugal algo que já atingimos em Lisboa, Porto e Braga para todo o País", disse João Vasconcelos na conferência Ativar Portugal.

O Web Summit, que decorrerá em Lisboa em Novembro, foi também um dos pontos focados. E o evento vai ser, defendeu o governante, "um bom momento para todos". "É a melhor oportunidade para mostrar um Portugal diferente ao mundo. Estamos a preparar muitas coisas para antes e depois do Web Summit", acrescentou. O objectivo do Governo é que os efeitos do evento não se resumam aos dias do evento, mas que possam ter efeitos alargados na economia.

"Onde ser português não é um problema"
João Vasconcelos, durante a sua intervenção, abordou também a Indústria 4.0, que considera ser uma revolução que está em curso. "Esta é a revolução onde ser português não é um problema. A nossa localização geográfica não interessa. É a primeira vez que, numa revolução industrial, Portugal, devido aos investimentos [ao nível tecnológico que já realizou]" pode ter a ambição de ser parte dos líderes deste movimento, sublinhou.

Destacando que esta revolução está a mudar as fábricas e muitos modelos de negócios, o secretário de Estado assinalou que o Governo está a lançar um debate com várias empresas internacionais a forma como as indústrias portuguesas podem integrar a economia digital.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Empreendedores agrícolas vão ter guia sobre como lançar negócio

 

Documento foi elaborado pela Inovisa, incubadora do Instituto Superior de Agronomia, e é uma iniciativa da McDonald’s.


Um guia para empreendedores agrícolas vai ser lançado na terça-feira em Lisboa e é o primeiro dedicado ao sector, com informações sobre modelos de negócio, burocracias necessárias para abrir uma empresa ou financiamento. A iniciativa é da McDonald’s e o documento, em formato digital, foi elaborado pela Inovisa, a incubadora de empresas do Instituto Superior de Agronomia (ISA).

Luís Mira, professor e presidente da Inovisa, explica que o ponto de partida foi criar um documento completo, inspirado no existente Guia do Empreendedor do IAPMEI, mas adaptado à realidade agrícola e aos novos conceitos de inovação, como a lean inovation. Neste modelo dá-se importância ao teste do produto no mercado: a ideia inicial vai sendo melhorada à medida dos resultados que se obtém junto dos potenciais clientes, numa metodologia que, diz Luís Mira, “é muito mãos na massa”.

Além da componente teórica, o guia inclui vídeos com casos práticos de parceiros da McDonald’s, como a Vitacress, produtora de alfaces lavadas e embaladas que fornece a cadeia de restauração, ou a Campotec, que fornece, por exemplo, o tomate fatiado. A MacDonald’s lançou a MBIA (McDonald's Business Initiative for Agriculture) para produzir e partilhar conhecimento entre os agricultores e aproximá-los do “universo de empreendedorismo nacional”. Na terça-feira haverá uma espécie de TED Talk onde estarão empresas já instaladas, como a Terrius, um agrupamento de agricultores da Serra de S. Mamede que promove os produtos locais, e empreendedores que vão divulgar as suas ideias de negócio.

“Tenho dado apoio a jovens agricultores numa formação – são pessoas que já estão preparadas – e o normal é não terem pensado de forma estruturada nos modelos de negócio e nas opções técnicas que têm. Não há um pensamento de um modelo de negócio”, ilustra Luís Mira, para se referir à necessidade de um guia orientador.

O professor do ISA diz que, a par das empresas já instaladas e com dimensão, há outras novas a surgir, “muito ligadas ao regadio e ao Alqueva, onde há disponibilidade de água e boas condições para produção”. Os novos negócios incluem a produção intensiva não só de frutos secos (amêndoa), como de olival. Há ainda um “empreendedorismo ligado à prestação de serviços à agricultura”, relacionados com automatismo ou digitalização de processos. “A IBM e a Google estão a olhar para o sector, que tem imensas oportunidades por explorar na área da robótica e automatismo”, detalha.
Candidaturas para a 15ª Call For Entrepreneurship da Portugal Ventures abrem dia 18


 Candidaturas para a 15ª Call For Entrepreneurship da Portugal Ventures abrem dia 18

As candidaturas para a 15ª Call For Entrepreneurship, da Portugal Ventures, arrancam dia 18 de Abril. Através deste programa, o organismo já investiu em 58 start-ups.

A fase de candidaturas para 15ª Call For Entrepreneurship, programa de investimento para projectos de base científica e tecnológica nas fases de seed e start-up da Portugal Ventures (sociedade pública de capital de risco), começam no próximo dia 18 de Abril e prolongam-se até ao dia 19 de Maio. Entretanto, está aberto o pré-registo para esta "Call".

Os projectos para serem elegíveis para esta "Call" têm de ser oriundos das seguintes áreas: tecnologias de informação e de comunicação, electrónica e web, ciências da vida, turismo e recursos endógenos, nanotecnologia e materiais. Os projectos que forem escolhidos beneficiarão de um investimento de até 750 mil euros.

Nas edições anteriores desta iniciativa, de acordo com o comunicado enviado às redacções, 2960 empreendedores "registaram-se no site da Portugal Ventures, resultando na apresentação de 964 candidaturas". E no âmbito desta iniciativa foram apoiadas 58 start-ups no âmbito desta iniciativa.

Através da Call For Entrepreneurship, a Portugal Ventures pretende investir cerca de 20 milhões de euros por ano.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Interior de Portugal, Madeira e Açores precisam de startups

 

O secretário de Estado da Indústria, João Vasconcelos, afirmou que o interior do país e as ilhas precisam de incubadoras de 'startups' e avançou que quer fortalecer o relacionamento com Espanha através das regiões do interior.

"Há regiões que precisam de incubadoras. Há vários casos em que há lacunas, por exemplo no interior e nas ilhas [Madeira e Açores]. Queremos fortalecer o relacionamento com Espanha através das regiões do interior", disse João Vasconcelos, que foi diretor executivo da Startup Lisboa antes de exercer funções no Governo, em entrevista à Agência Lusa.

No início de março, o Governo lançou a Startup Portugal, uma estratégia nacional com quinze medidas para o empreendedorismo, uma delas precisamente a criação de uma Rede Nacional de Incubadoras.
"São precisas mais incubadoras de agroalimentar, do mar, de energia. Ao fazermos a rede nacional vamos saber as regiões onde há lacunas e os setores em falta", disse João Vasconcelos.

O secretário de Estado sublinhou o papel das autarquias: "A partir do momento em que os municípios fazem parte deste movimento tudo muda, porque em termos de 'startups' [empresas em início de atividade] estamos a concorrer entre cidades e regiões com o resto da Europa".

A estratégia lançada pelo Governo visa criar e apoiar o ecossistema à escala nacional, atrair investidores, cofinanciar 'startups', apoiar as 'startups' portuguesas nos mercados externos e implementar as medidas públicas de apoio ao empreendedorismo.

João Vasconcelos falou da evolução das incubadoras em Portugal e de que como estas passaram de ninhos de empresas, com rendas mais baixas, serviços administrativos e salas de reuniões partilhadas, nos anos 80 e 90, para outras de base mais científica, quase todas ligadas às universidades e para as mais recentes, já de apoio a negócios independentemente de serem científicos ou não, como a Startup Lisboa, a Startup Braga ou mais recentemente a Startup Santarém.

"Estas incubadoras estão muito associadas às câmaras ou aos governos regionais, no caso dos Açores e da Madeira. Estão muito associados a um modelo de negócio onde não associam o empreendedorismo só à ciência ou ao conhecimento. A Padaria Portuguesa provavelmente criou mais postos de trabalho do que outras empresas de natureza científica", disse.

A Made In, em Famalicão, é também uma incubadora para o setor têxtil, e a Open é uma incubadora industrial no setor dos plásticos e moldes, na Marinha Grande, lembrou.

Segundo João Vasconcelos, o que caracteriza estes espaços, além de uma renda um pouco abaixo do preço de mercado, é a existência de mentores e o acesso a investidores e eventos, que permitem às empresas saber o que andam todos a fazer.

"Quando um comete um erro os outros aprendem todos lá no prédio, quando um deteta uma oportunidade os outros também aprendem", disse, contando que quando estava na Startup Lisboa chegou a observar a reação de investidores que vinham dos EUA ou de Londres ao depararem-se com várias empresas no mesmo espaço.

"Quando [o investidor] percebia que estava num prédio com mais 50 empresas, almoçava com uns, jantava com outros, fazia 'surf' com outros. A vantagem de estar numa comunidade é isto", disse.

sábado, 2 de abril de 2016

“O empreendedorismo traz tudo menos estabilidade”

 

Com uma experiência acumulada de 20 anos como empreendedor, Nuno Machado Lopes escreveu o livro Tudo Mudou, Novamente, em que procura ser uma voz lúcida e contracorrente em relação ao “impiedoso mundo do empreendedorismo” 

 

Ao longo de duas décadas, Nuno Machado Lopes foi escrevendo notas, para seu uso pessoal, das lições que foi aprendendo como empreendedor e mentor de mais de 150 start-ups portuguesas e estrangeiras. Uma matéria-prima que serviu para a escrita do livro Tudo Mudou, Novamente, que não pretende ser um manual completo sobre empreendedorismo, mas que acaba por transmitir uma visão crítica que tempera o atual clima de euforia que se vive em volta da criação de negócios de crescimento acelerado.


O que o motivou a escrever este livro?
Pensei dar um contributo para tornar a experiência dos empreendedores mais equilibrada, tirando partido da minha vivência de 20 anos como empreendedor. E também quis desmistificar Silicon Valley, onde vivi durante algum tempo. Outra motivação resultou da necessidade de valorizar o quanto difícil é criar uma empresa. Isto porque não quero que as pessoas caiam no erro de avançar para a criação de uma empresa por estarem desempregadas. Às vezes é a pior coisa que podem fazer, porque o que precisam é de estabilidade na vida. O empreendedorismo traz tudo menos estabilidade. Esta conversa existe nos bastidores do ecossistema, mas o que sai para fora é uma visão demasiado otimista. Outra ideia que quis demonstrar ser errada é quando se diz que a tecnologia cria emprego. Pelo contrário, destrói emprego. Devemos enfrentar os grandes desafios na sociedade e não mascará-los, nem induzir as pessoas em erro.

Mas hoje é muito mais fácil e menos arriscado criar uma empresa do que era há alguns anos. Há ecossistemas que ajudam a ter sucesso…
Sim, a barreira de entrada é muito menor. Se virmos a coisa de forma linear, hoje é mais fácil. Há mais informação. Criar um site na Internet chega a ser gratuito no primeiro ano. A diferença é que agora há muito barulho e muita concorrência. Daí que hoje seja mais difícil ser empreendedor. Isto porque há mais dimensões. A pessoa sente-se muito sozinha. Por outro lado, celebrar o falhar não é intelectualmente honesto, independentemente de se aprender. Nos EUA até há conferências em que as pessoas vêm confessar os falhanços. É uma ideia que é promovida pelas relações públicas de Silicon Valley. As start-ups que têm sucesso são uma percentagem tão pequena que o empreendedorismo chega a ser uma doença. É muito irracional ir para algo que sabemos que irá falhar. O empreendedor tem momentos de ilusão em que não toma consciência dos riscos que está a assumir.

Este ambiente favorável às start-ups é um contraponto à mentalidade portuguesa conservadora de aversão ao risco?
A questão não se coloca apenas em relação a Portugal. É uma questão da Europa. Deste lado do Atlântico somos mais conservadores que nos EUA. Mas não é uniforme: nos países do Sul da Europa dá-se muita importância à família e isso tem consequências quando embarcamos na jornada do empreendedorismo, pois as primeiras coisas a sofrer são as relações. Em Inglaterra, a pessoa sai de casa aos 18 anos, já em Portugal os jovens ficam às vezes até aos 30 anos ou mais, o que também tem um lado positivo.

Há a ideia de que os Estados Unidos estão sempre a fazer disrupções tecnológicas e a Europa está a travar. Quem está certo?
Como europeu, sinto que é bom haver alguém a olhar pelos meus direitos, não a travar a inovação e a tecnologia, mas a colocar algumas questões. Nas aplicações para telemóveis, vemos esta questão da utilidade versus a privacidade: quanto mais utilidade queremos de uma app, de mais privacidade temos de abdicar. Acho que há um limite. Podemos ser induzidos a abdicar de demasiada privacidade. Por outro lado, instalou-se a convicção de que o empreendedorismo podia fazer disrupções de tudo: leis, regras, princípios. Isso cria um empreendedor que acho que não é saudável para a sociedade. Devemos ter cada vez mais uma voz crítica, porque estamos a entrar num período complexo. Vimos o impacto que teve no mercado financeiro a entrada de peritos em matemática, que criavam produtos cujos efeitos não eram conhecidos. Por isso temos de ter algum cuidado com os produtos tecnológicos, porque não sabemos que impactos irão ter. Vemos uma discussão errada sobre a Uber: o carro limpo e o chauffeur de fato versus o taxista mal-educado e o carro sujo. Essa não é uma discussão válida. Mais importante é saber quando a Uber se torna uma utility e começa a fazer pesquisa por preço e a mudar as regras. E qual é o impacto que pode ter no emprego. Não podemos alhear-nos das consequências do que estamos a criar. Basta ver que para as pessoas que têm mais dinheiro em Silicon Valley a sua maior preocupação é a segurança. Eles têm razão para estar com medo. Já vimos no passado que as sociedades podem explodir a qualquer momento por causa das desigualdades.

Como vê as somas astronómicas que estão a ser investidas no aumento da longevidade em Silicon Valley por empresas como a Google?
Sabemos que essa longevidade não está acessível a todos. Será apenas para os white privileged male (“homens brancos privilegiados”). Viver mais parece ser uma aspiração nobre, mas mais uma vez os beneficiários serão uma pequena minoria.

O que faz tantos empreendedores europeus quererem ir para o ecossistema de Silicon Valley?
A ideia do meu livro é mostrar às pessoas que não há apenas uma alternativa. E, se embarcarem na via do empreendedorismo, dá dicas: em que moldes é que devem fazê-lo e quais as suas expectativas. Se as pessoas quiserem criar uma empresa gigante, um unicórnio, se não é importante ter tempo para si e para a família, para viajar, então direi que sim. Mas têm que ter consciência de que estão a jogar na lotaria. Isto é a diferença entre nós irmos apostar dois euros no Euromilhões, assumindo que estamos a deitar esse dinheiro fora, e aquelas pessoas que jogam sistematicamente porque acreditam que irão resolver mais tarde ou mais cedo os seus problemas financeiros. Não é muito diferente do casino, se as pessoas acreditam que irão conseguir ganhar arriscando cada vez mais. A verdade é que os indivíduos que ganham no casino são aqueles que sabem perfeitamente quais são as probabilidades, quando é que se joga e quando é que se sai. Por isso irrita-me quando se ouve dizer que o empreendedorismo é fantástico quando a pessoa está desempregada, porque se está a criar uma expectativa falsa. E isso pode ser muito perigoso.

Como mentor ou como diretor de Marketing e Comunicação da associação de empreendedorismo Beta-i, o que diz aos jovens empreendedores que acaba de conhecer?
Pergunto-lhes o que querem da vida, mesmo antes de apresentarem a ideia. E qual é a sua definição de sucesso. Quando começo a fazer algumas perguntas a pessoas que são relativamente novas e lhes digo: “Vamos supor que estavas numa empresa que faturava dois ou três milhões de euros e na qual tinhas uma margem de 30% por ano, serias feliz?, normalmente não respondem logo e basta olhar para a cara deles. Começam a imaginar o que é ter esse dinheiro e começam a sentir liberdade de poder viajar e comprar as coisas de que gostam. Mas depois, como estão neste meio, respondem: “Isso é pouco.” O nosso papel não é ouvir o que eles dizem, mas sim perceber o que estão a sentir no momento. Muitas vezes, à medida que a conversa evolui, percebemos que o que querem é criar empresas sustentáveis e com equilíbrio de vida. Por isso defendo que devemos controlar a tecnologia e não ser controlados pela tecnologia. Essas conversas servem para que os candidatos a empreendedores estejam melhor informados, para que tomem decisões conscientes. Quando ia a conferências nos EUA, tinha a sorte de ir para a zona de media, por ter um blogue. Falava com personagens como Elon Musk, fundador da Tesla, e no principio sentia-me muito insignificante. Depois aprendi a nadar na minha pista e assumi que não queria ter a vida deles. A atitude certa é ter objetivos e lutar por eles e, acima de tudo, assumir para mim o que é ter sucesso e felicidade e sentir-me bem com isso, e não estar constantemente a comparar-me com outros.

Com o aparecimento de dezenas de incubadoras em vários pontos de Portugal estaremos a cair no exagero? O empreendedorismo pode ser uma panaceia?
O empreendedorismo tornou-se uma moda, e há alguns perigos que é preciso evitar. Mas é importante salientar o bom momento que Portugal, sobretudo Lisboa e Porto, vive atualmente. Há um boom no turismo, o ecossistema de empreendedorismo está a ter reconhecimento internacional. Isto é positivo, porque se está a dar um rumo ao país. Ainda vamos a tempo de criar o nosso ecossistema, que não é Silicon Valley, mas que estará adaptado à nossa realidade.

Ainda iremos a tempo?
Acho que sim. O nosso ecossistema de empreendedorismo já tem uma parte sólida. Há pessoas com os pés bem assentes no chão. E também vamos ter o Web Summit a realizar-se em Lisboa. É um alinhamento que irá dar os seus frutos. Estou muito otimista. Outro desafio é fazer com que algumas das pequenas e médias empresas (PME) portuguesas já existentes, que nos últimos sete anos sofreram uma crise profunda, consigam tirar partido destes princípios de aceleração. Provavelmente os empresários estão abatidos psicologicamente e desatualizados. Como é que conseguimos tirar o que é bom destes modelos de crescimento rápido e aplicá-lo ao nosso tecido empresarial? Se cada empresa aumentasse uma pessoa e exportasse mais 5% a 10%, haveria uma mudança radical no nosso trajeto. É muito importante apostar em investigação e design e atrair para Portugal mais centros de investigação e desenvolvimento de multinacionais.
Onde têm falhado as empresas portuguesas?
Têm de ser mais eficientes para poderem expandir em mão-de-obra qualificada. Há sectores tradicionais, como o calçado, o azeite ou o vinho, que nos últimos anos têm vindo a ganhar prémios internacionais. Os produtos não mudaram, o que mudou foi a forma de os divulgar e apresentar lá fora. Também penso que os bancos deveriam começar a olhar para o investimento nas empresas de forma diferente. Mais do que analisar a tesouraria, deveriam olhar para o potencial dos seus produtos.

Quais são as fragilidades que identifica nos empreendedores portugueses?
Quando começam a falar comigo, seguem o guião habitual e começam logo com um pitch (apresentação curta). Interrompo e digo-lhes: “Falem-me de vocês.” A conversa acaba por ser mais do que a meia hora prevista em que acabo por fazer perguntas pessoais. Por exemplo, “quanto dinheiro é que tens disponível para o projeto?”, “de quanto necessitas para viver?”. Percebe-se que há indivíduos com circunstâncias muito diferentes. Uns têm capacidade para estar um ano a experimentar. Há outros que acabaram de ter um filho mas que estão apaixonados pela ideia de negócio. Pode ser tão válida quanto a outra (do empreendedor com dinheiro), só que tem meios para sobreviver apenas um mês. Isso permite desenhar um plano em que adiantamos uma verba mensal que será reembolsada mais à frente. Depois deste conhecimento inicial, transmito aos cofundadores que é preciso ter planeamento, metas e objetivos. Uma coisa que não fazem geralmente é um orçamento anual, muito menos o mensal e o semanal. Se pudermos avaliar os nossos desvios semanalmente, conseguimos corrigi-los e aumentar a eficácia.

Há um problema de classe entre os jovens empreendedores? É mais fácil a um de pais ricos criar uma empresa?
Há, de facto, um fosso no acesso ao empreendedorismo, mas a minha experiência diz-me que as pessoas que têm uma maior almofada cometem mais erros no início e os que não têm esse conforto financeiro não cometem esses erros e conseguem criar empresas mais estáveis.

Que área deve um empreendedor ter mais em conta?
É o mental check up. Foi aquilo que aprendi através da retroinspeção. No início, o que vemos é negro e assusta-nos. Começamos a ver as nossas falhas, mas com o tempo começamos a gerir melhor a nossa ansiedade e a ver que o stress não é uma coisa negativa.

Há empreendedores com excesso de confiança e outros demasiado inseguros. Como lidar com essa componente psicológica?
Há pessoas que aparentam ter muita confiança, mas que no fundo são extremamente inseguras. Acabam por ter as maiores quedas e lidam mal com a realidade e com a frontalidade das críticas. As que geralmente estão melhor preparadas para os desafios são as assumidamente inseguras, porque tomaram conhecimento dos seus demónios. A auto ajuda pode ser uma forma de ultrapassar estes medos. O recrutamento que se faz é péssimo. As pessoas são recrutadas pelos seus hard skills (competências técnicas) e menos pelos seus soft skills (competências comportamentais). Muitas vezes as roturas acontecem por causa dos soft skills. O empregador deve perceber também que o empregado tem de ter vida própria e pode ter problemas pessoais que afetem o trabalho. Mais vale que vá para casa resolver o problema do que ficar infeliz e a contaminar a equipa.

Nuno Machado Lopes, autor do livro "Tudo Mudou, novamente" 

B. I.
Empreendedor multifacetado

Nome
Nuno Machado Lopes

Vida
O atual diretor de Marketing e Comunicação da associação de apoio ao empreendedorismo Beta-i tem 45 anos. Licenciou-se na Universidade de Londres, esteve dois anos na Bolsa, na City, e percebeu “o que não queria fazer” (trabalhar no sector financeiro). Passou 20 anos no estrangeiro, sobretudo em Londres e em Silicon Valley, onde, como bloguista, conheceu por dentro o maior ecossistema de empreendedorismo do mundo.

Carreira
Em 2006 regressou a Portugal para criar o projeto Paradise Garage, uma pequena sala de espetáculos que ganhou fama internacional. Em 2007 criou o Kreedo, um portal de marketing em tempo real. Em 2008 fundou o restaurante lisboeta Silk Club. Nos anos seguintes criou projetos como a IG Marketing e a Out There Records (editora musical independente). Nos últimos anos, Nuno Machado Lopes tem sido docente no ISGB (Instituto Superior de Gestão Bancária) e na Universidade Lusíada e faz consultoria a empresas na área de social media.